terça-feira, 3 de julho de 2012

Zico conta 'sacudida' em Cerezo e promessa de Sócrates na Copa de 82

Galinho de Quintino acha que craque corintiano teria mudado seu estilo de vida se fosse campeão mundial na Espanha.

Fonte: Globo Esporte

Um dos ícones da simbólica Seleção de 82, Zico chegou à Espanha com uma moral a mais que seus companheiros. Um ano antes, o Galinho de Quintino havia levantado o troféu de campeão mundial de clubes no Japão, com o Flamengo, equipe na qual ostentava a faixa de capitão. Sua liderança foi fundamental nos momentos mais difíceis da Copa, como a derrota para a Itália. Após o segundo gol italiano, quando Cerezo errou o passe na intermediária de defesa, Zico viu a tristeza do companheiro e tentou reverter a situação.

- É normal um jogador cometer um erro como aquele e se abater. Então eu disse a ele: “Vamos cara, isso acontece. Vamos em frente, isso é do jogo, faz parte. Levanta a cabeça, vamos para a luta”. Não adianta ficar lamentando. Tinha muito jogo ainda, isso foi no meio do primeiro tempo – afirmou Zico.

Explorando a essência da palavra ‘seleção’, Telê Santana, que ganhou o apelido de Mestre no mundo do futebol, juntou não apenas bons jogadores para as posições, mas também ídolos dos seus clubes. Cada um carregava uma história, um significado que aquela disputa e o que aquele possível título Mundial poderiam representar em suas vidas. Até hoje, Zico se emociona ao relembrar uma conversa que tivera com Sócrates dias antes da estreia em 82.

- Eu lembro que ele falou: “Essa vai ser a Copa do Mundo. Eu quero ganhar. Eu vou abdicar de todos os meus prazeres para me dedicar a isso”. E foi o que ele fez. Nós, depois, sempre brincávamos com ele: “Você não precisa ter uma Copa do Mundo para fazer isso. Nós temos hora para tudo”. O fato de ter colocado o Sócrates como capitão, o fato de ele ter sido o cara que segurou a peteca nos treinamentos, que teve um preparo físico ótimo. Então eu acho que, se ele tivesse ganho a Copa, ele realmente poderia ter mudado, entendeu? – recordou o Galinho sobre o amigo que morreu aos 57 anos, no fim de 2011, por problemas de saúde decorrentes do seu confesso alcoolismo.

Derrota fez mal para o futebol

O Brasil perdeu. Para a infelicidade de Sócrates, Cerezo, Zico, de todos os jogadores, profissionais da comissão técnica, povo brasileiro. E, de acordo com a ótica do camisa 10 daquele time, para a tristeza até mesmo do mundo do futebol.

- Eu acho que a derrota do Brasil fez mal para o futebol. A Itália tinha um grande time. Mas no futebol você tem que ir para dentro do campo, não para bater. Telê não admitia isso, ele queria ver futebol. E durante alguns anos ficou prevalecendo o futebol de resultados a qualquer custo. Ainda bem que o Barcelona reviveu o futebol e venceu. O próprio Guardiola já disse que se inspirava no Brasil.

Existe uma justificativa para Zico defender o futebol da Seleção contra um estilo de jogo mais pesado da Itália. O técnico italiano em 82 tinha conhecido o craque em 1979, num amistoso entre Argentina, campeã mundial em 78, e um combinado do resto do mundo. Para anular o camisa 10 articulador das jogadas brasileiras na Copa, o volante Gentili recebeu a missão de parar o Galinho de Quintino. O jogador da Azzurra levou sua incumbência tão a sério que, numa disputa de bola contra o brasileiro, puxou sua camisa tão forte que chegou a rasgá-la.
- Eu não falei nada com ele, pois esse era o seu papel. Acho até que ele foi mais leal comigo do que com Maradona. O que aconteceu contra a Argentina foi uma carnificina. Contra o Brasil, ele levou amarelo logo aos 10 minutos. Eu até reclamei com meus companheiros. Queria a bola para forçar uma expulsão dele. Mas não me ouviram. No Flamengo a gente fazia isso. Na dificuldade me davam a bola, eu forçava uma expulsão do adversário ou uma falta perto da área – disse.

Gol de empate é o que gostaria de ter feito na carreira, mas no fim do jogo

Zico construiu uma carreira de títulos e glórias. Ganhou tudo que era possível no Flamengo. Deixou seu nome na história do Udinese da Itália. Tornou-se ídolo também do outro lado do mundo, mais precisamente no Japão. Porém, a falta que faz uma Copa pela Seleção em sua trajetória é evidente. Tanto que, na hora de responder sobre o gol que ele gostaria de ter feito, Arthur Antunes Coimbra não tem dúvidas.

- Eu costumo dizer que, se tivesse um gol que eu gostaria de ter feito, seria o do empate contra a Itália, mas pouco antes de o jogo acabar. Se tivesse tempo após esse gol de empate, acho que os italianos fariam o quarto. Parece que estava escrito que, tantos gols a gente fizesse, eles fariam mais, pelas circunstâncias. Foi a única vez que tomei três gols pela Seleção – afirmou.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário